Depois de anos à frente da Coordenadoria de Desenvolvimento Energético do Rio Grande do Norte, Hugo Fonseca, assumiu a secretaria adjunta da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico (SEDEC/RN) e faz um panorama sobre como o Estado tem se posicionado no processo de transição energética. Ele avalia que o RN alcançou um nível de maturidade na profissionalização da mão-de-obra graças às parcerias com instituições como o Senai, UFRN e UERN. Na corrida pela produção do hidrogênio Verde, ele aponta que o caminho que está sendo seguido é mais seguro e diferente dos outros estados, focando no planejamento estratégico. O secretário também explica como o Estado tem dedicado um olhar mais promissor para as Parcerias Público Privadas (PPP) seja na área de renováveis ou nos outros setores da administração pública para melhorar os serviços e garantir investimentos.
Entrevista com o Secretário Adjunto de Desenvolvimento Econômico do RN, Hugo Fonseca
Qual a avaliação que o senhor faz da produção de energias renováveis no Estado?
O Rio Grande do Norte, pela primeira vez em muitos anos, alcançou um nível de maturidade muito alto em termos de planejamento energético. Isso mostra que a gente profissionalizou o setor de planejamento estratégico para atrair novos investimentos. Basicamente mais de 30% do PIB industrial do Estado é vinculado ao setor energético, que emprega milhares de pessoas. A interiorização da indústria de geração de energia é absurda em termos de investimentos e geração de emprego e renda. Lógico que muitos estão vinculados à parte de implantação, mas não podemos deixar de negar a enorme quantidade de equipes e núcleos que fazem a manutenção dos complexos, sejam eólicos ou solares. Estamos falando de empregos mais técnicos, com valor de remuneração mais alto, saindo dos empregos com perfil da construção civil e exigindo um profissional com maior capacitação. Isso mostra que para atuar no setor precisa estar mais capacitado e os centros de formação trabalhando em conjunto.
Estamos conseguindo qualificar essa mão-de-obra?
Por isso, a importância de ter Senai, UFRN, UERN e outras instituições formando profissionais, porque atingimos um nível de maturidade para o setor que possibilita uma quantidade de mão-de-obra qualificada atuando no setor. E o mais interessante é que a gente consegue exportar essa mão-de-obra. Temos uma grande quantidade de complexos de geração de energia funcionando e que requer mão-de-obra qualificada. E nossos profissionais estão sendo absorvidos, ou seja, estamos num segundo nível de maturidade, saindo da fase basicamente de implantação para grandes usinas em operação com necessidade de ter profissionais qualificados para manter essa operação. Tem profissionais de nível técnico ganhando R$ 10 mil, R$ 15 mil no setor de energias.
Quais as parcerias firmadas para garantir a consolidação do setor?
A parceria significa duas coisas: dividir o conhecimento entre as academias e centros de formação, possibilitando a inserção dessas instituições no mercado de trabalho e, principalmente, a integração do setor de TI com o setor produtivo voltado para energias. Hoje, temos convênios com a Universidade Federal, entre eles o projeto do porto-indústria verde. Temos com o Senai, o primeiro atlas do Brasil para energia em terra e no mar. Com isso, o Senai daqui se credenciou nacionalmente como referência. Outro projeto inovador com o Senai, que foi o primeiro estudo no Brasil para infraestrutura de transmissão para geração de energia no mar, especificando como os cabos submarinos vão chegar, como evitar impactos ambientais, como linkar na rede elétrica, as faixas de servidão, os pontos de conexão de entrada para evitar sobreposição com outras atividades, tudo feito na parceria do Governo do Estado com o Senai. Hoje esse estudo é referência no Brasil. Agora, estamos com a terceira parceria que é o atlas para o hidrogênio e amônia verde, determinando os lugares para produzir esses materiais com custo competitivo para ser absorvido na indústria brasileira ou exportar. E assim a gente faz com a universidade no projeto do porto-indústria. Quando a gente traz a academia para junto, o Estado não mantém a informação centralizada nele, mas consegue ter capilaridade no processo para formar grande massa crítica sobre aquela tecnologia, dinâmica ou tipo de empreendimento. Essas parcerias são essenciais para o Estado. O ganho em escala é gigantesco.
Como o Estado se posiciona na corrida pela produção do Hidrogênio Verde?
Nessa corrida, o Rio Grande do Norte optou por uma estratégia diferente focando no planejamento porque aprendemos no início dos projetos de energias renováveis que precisamos consertar determinados procedimentos com o “carro andando e trocando o pneu”, seja do ponto de vista de licença ambiental, seja do ponto de vista de incentivo a fonte ou de infraestrutura de conexões e interligações, que teve um custo. Fizemos, conseguimos, mas se a gente tivesse pensado num planejamento de infraestrutura mais adequado, dizendo o que pode e o que não pode, será que não estaríamos melhor? Então, o Estado decidiu planejar, estabelecer parâmetros técnicos e legais e investir em infraestrutura, vamos nos tornar líder.
Então os outros estados estão se planejando menos, na sua visão?
Quando a gente olha para os demais estados, principalmente os do Nordeste, o único que está investindo na regulamentação da fonte é o nosso. Somos o único que já mostramos para o empreendedor como vai funcionar a regra do jogo. Os outros estão mais preocupados em atrair empresas primeiro para depois ver como vai acontecer. Já fizemos isso também, mas entendemos que não é suficiente e não traz resultados a médio e longo prazo, principalmente com uma fonte que ainda não atingiu sua maturidade do ponto de vista comercial. O hidrogênio e a amônia verde ainda não estão no nível por exemplo, da energia eólica e solar, mas sim numa fase de estudo, com projetos piloto no mundo todo, na fase de experimentação para descobrir como produzir ao custo mais baixo.
Então, o que já foi feito neste sentido, pelo governo do RN?
Com essa premissa, vamos desenvolver as bases, a estrutura para que possa se desenvolver e percebemos que fizemos a coisa certa. Os resultados já estão chegando. Nas reuniões que já tivemos com empresas sérias, fundos internacionais, recebemos elogios quanto a essa organização. Já temos o arcabouço legal sendo votado na Assembleia Legislativa, temos o projeto do porto pronto em fase de autorização e toda uma equipe técnica com um centro de inovação (do Senai), ou seja, todos os instrumentos que garantem ao investidor segurança para investir. Temos duas grandes usinas em licenciamento no Idema. Temos parceria a ser anunciada com um grande fundo europeu com um valor considerável em bilhões de euros para implantação de usina de hidrogênio e amônia com um mercado garantido.
Como está o cronograma para a implantação do Porto-Indústria?
Estamos na cooperação com o BNDES, fechando contratação dos estudos finais que é a modelagem financeira, as consultorias que vão atuar no projeto até a elaboração do edital. Vai durar uns três meses ainda e é importante para dar segurança e atratividade ao edital de Parceria Público Privada. No final de 2026 queremos lançar o edital, mas antes precisamos passar pela fase de autorizações nos órgãos federais, pelos estudos e monitoramento ambientais que devem demorar um ano para dar toda segurança ao investidor. Em 2027 deve acontecer o pregão.
Onde mais cabem PPPs no âmbito da Sedec?
Temos a primeira PPP que será lançada que é o programa de eficiência energética do Estado, pelo qual prevemos uma economia por volta de R$ 46 milhões por ano e que pode chegar a R$ 60 milhões. Envolve readequação do consumo de energia nos prédios públicos e geração de energias para esses imóveis. O Estado terá suas próprias usinas de energias de 25,30 mega watts. São escolas, unidades policiais, e envolve escolas, unidades policiais, de saúde. O Estado vai lançar o edital e a empresa que apresentar melhor oferta para entregar energia com custo competitivo deve ganhar.
O governo tem interesse em PPPs em outras áreas?
O Estado vai investir em PPPs. Temos a estrada da Pipa que é objeto de PPP. Estamos analisando se os estudos ficarão para o BNDES ou o Banco do Nordeste. Mas temos outros ativos, como Parque das Dunas, Cidade da Criança, algumas rodovias novas que servirão de atalhos, entre outras, na área de saúde, de saneamento básico junto à Caern. O Estado tem investido em PPPs porque entende que atrair o capital privado somando com o público traz sinergia, diminui a pressão sobre o estado e sobra dinheiro para reverter para a população em melhorias na segurança pública, na saúde e educação, principalmente. Isso não é privatizar. O bem continua sendo do Estado e o melhor, que é de forma que as tarifas dos serviços não prejudique a população e ainda garanta investimentos, capital girando e empregos sendo gerados.
Tribuna do Norte