A tragédia provocada sobre a enchente no Rio Grande do Sul se transformou num grande debate dentro do futebol nacional, entre os dirigentes favoráveis à paralisação do Brasileirão e os que optam pela continuidade da competição, para não prejudicar ainda mais o calendário nacional. A CBF convocou uma reunião com os 20 clubes da Série A para o próximo dia 27, que promete ser decisiva em relação ao tema. Instado a opinar sobre a questão, o treinador Marquinho Santos, do América, destacou ser favorável a parada das competições nacionais, nem que seja por, pelo menos, 15 dias.

“Quero aqui deixar toda minha solidariedade ao povo gaúcho pelo que estão tendo de conviver e acompanho com preocupação a situação de atletas como o Davis, que a mãe acabou perdendo a casa com a enchente, tem também a questão do Juliano que está na mesma situação e passou pelo América. Sem falar que na nossa comissão e na nossa direção existem pessoas que são do Sul e temos sentido essa aflição com este momento de dificuldades. Num momento delicado que exige tanta humanidade, discutir sobre futebol fica difícil. Como o atleta entra em campo para desenvolver sua profissão sabendo da aflição numa parte do país?”, destacou o comandante da equipe potiguar.

O tema é tão polêmico que também divide opiniões dentro dos grupos da liga de futebol. A Libra, encabeçada pelo Flamengo, Palmeiras, São Paulo e cia, por enquanto possuem opinião contrária à paralisação, por considerar que em atividade, os demais clubes podem realizar campanhas nas partidas e ajudar mais a população de desabrigados no Sul. Por sua vez a Liga Forte União, desde já, se posiciona contra a manutenção do calendário.

“Como o Brasil possui dimensões continentais, talvez as pessoas que se encontrem mais afastadas do local afetado, não se dê conta do tamanho da tragédia que os nossos irmãos gaúchos estão passando. A pessoa não consegue mensurar direito a realidade, mas a minha esposa, que faz parte de um grupo de auxílio ao povo gaúcho, tem me relatado vários fatos tristes e lamentáveis. Então eu, como pessoa física, sou a favor da paralisação do calendário, nem que seja por um determinado número de dias apenas”, afirmou.

Marquinhos Santos disse que vem conversando com vários treinadores que trabalham nas Séries A, B, C e D e a maioria se mostra favorável a parada. “É desumano dar continuidade ao calendário do futebol. Sei que existe a questão econômica no meio da questão, do próprio prejuízo que a parada deve acarretar ao calendário nacional, que já é muito apertado, mas tem que se tentar equilibrar frente toda essa situação”, observou.

O treinador americano disse conhecer bem a dor que as vítimas das enchentes no RS estão sofrendo, porque, quando criança, sentiu na pele a necessidade de ter de abandonar o lar invadido pelas águas. Ele ressalta que apenas as vítimas sabem o estrago emocional que se sente ao saber que tudo aquilo conquistado na vida, caso dos bens materiais, não existe mais.

“Na minha infância tive de sair de casa por causa de um alagamento, na época tinha uma vida bem humilde e sei bem o que é perder as coisas que temos dentro de casa. Sei também o que é depender de um abrigo por não ter mais onde ficar. Só quem passa consegue entender o tamanho do desespero dessas pessoas e deixo aqui toda minha solidariedade ao povo gaúcho. Por isso acho que tem de parar o calendário. Volto a frisar, essa é minha opinião pessoal, não da SAF do América”, reforçou.

Santos aproveitou ainda para parabenizar as ações promovidas pelos atletas dos clubes gaúchos, que prestam solidariedade às vítimas das mais variadas formas e enaltecer trabalhos como os realizados pelos surfistas Pedro Scooby e Ítalo Ferreira, que além de encabeçarem grupos de salvamento no local da tragédia, doaram suas próprias motos aquáticas para auxiliar nas buscas por mais vítimas.

Tribuna do Norte

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