Em meio às águas calmas do Rio Potengi, um grupo de mulheres se reúne com um propósito comum: remar contra o câncer de mama. O projeto “Remo do Peito”, iniciado em 2022, ganhou um novo aliado este ano – um Dragon Boat, embarcação que simboliza força e sabedoria dentro da cultura chinesa, hoje vai além da oportunidade de praticar um esporte, e acabou se transformando numa luta pela vida.
O “Remo do Peito”, um projeto que começou como uma faísca de esperança, agora é um farol de superação reconhecido internacionalmente pela Comissão Internacional de Remadoras Sobreviventes do Câncer de Mama (IBCPC). Este reconhecimento é um testemunho do impacto transformador que o projeto teve na vida das participantes.
Inspirado pelo estudo pioneiro do Dr. Don McKenzie, que em 1996 desafiou a crença de que mulheres tratadas para câncer de mama deveriam evitar exercícios na parte superior do corpo. Seu programa demonstrou que a canoagem em dragon boat não só era segura, mas também trazia benefícios físicos e emocionais para as sobreviventes.
Desde a sua criação, o “Remo do Peito” tem sido um santuário de força e saúde. As remadoras relatam melhorias significativas no condicionamento físico e na qualidade de vida, com ênfase especial na reeducação alimentar. A inclusão de uma psicóloga no projeto é um passo adiante na jornada de cura, reconhecendo a importância do bem-estar mental junto ao físico.
Carla Alves, capitã da equipe “Remo do Peito”, é um exemplo de superação. Após ser diagnosticada com câncer de mama em 2016, Carla enfrentou um longo tratamento, incluindo mastectomia e quimioterapia. Hoje, ela se dedica a desmistificar o câncer e a mostrar que a vida após a doença pode ser plena e ativa.
“O trabalho com a autoestima, é o trabalho para mostrar a gente que nós somos capazes de fazer uma atividade física que exige um labor, que exige uma técnica, que exige um certo esforço também. Antes dessa pesquisa do doutor Mackenzie, muitas mulheres que tiveram câncer de mama tinham aquela sentença de ficar quase inutilizadas. Tudo de forma adaptada a gente pode fazer. Muitas coisas, na verdade, a gente pode fazer. A vida da gente não parou depois que a gente teve câncer de mama,” relata Carla.
No último mês, um curso de técnicas de remada em dragon boat trouxe uma nova dimensão ao treinamento, com avaliações realizadas por uma fisioterapeuta. Essa abordagem holística é essencial, pois o tratamento contra o câncer muitas vezes abala profundamente a autoestima das mulheres. Projetos como o “Remo do Peito” são vitais para restaurar a confiança e mostrar que há vida após o diagnóstico e tratamento do câncer.
A maioria das integrantes do grupo são mulheres que já concluíram a quimioterapia e radioterapia ou que receberam alta completa. Elas encontram no projeto um lugar não apenas para se exercitar, mas também para se reconectar com seus corpos e mentes, enfrentando as sequelas físicas e psicológicas com apoio e solidariedade.
Além de fortalecer o corpo, o remo em dragon boat promove a saúde mental e a socialização. As remadoras encontram apoio mútuo e uma rede de solidariedade que as ajuda a enfrentar os desafios pós-tratamento.
O “Remo do Peito” é mais do que um projeto esportivo; é uma comunidade que oferece suporte, força e esperança. Ao remar juntas, essas mulheres demonstram que é possível retomar as rédeas da vida, com determinação e alegria. Com o reconhecimento do IBCPC e a expansão de seus serviços de apoio, o projeto está definindo um novo padrão para a recuperação e o empoderamento das sobreviventes do câncer de mama.
A ideia de trazer o remo para as sobreviventes de câncer de mama em Natal foi de Rosiane Cavalcanti, presidente do Centro Náutico Potengy. Inspirada pelo Movimento de Remadoras-Rosa que encontrou na internet, Rosiane trouxe essa prática empoderadora para a cidade, criando um espaço onde as mulheres podem reconstruir suas vidas após a quimioterapia, radioterapia e outras etapas do tratamento.
No dia 1º de junho, o “Despertar do Dragão”, lançamento da nova embarcação ao mar, marcou o início de uma nova jornada para as remadoras do projeto. A cerimônia, repleta de tradição e simbolismo, envolveu a decoração do local com flores e um banquete de frutas. A cabeça e a cauda do dragão foram colocadas nas extremidades do barco, e as remadoras pintaram os olhos, língua e chifres, representando o despertar do dragão. Cada participante deixou sua marca no barco, simbolizando sua luta e esperança.
O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos. Cerca de 2,3 milhões de casos novos foram estimados para o ano de 2020 em todo o mundo, o que representa cerca de 24,5% de todos os tipos de neoplasias diagnosticadas nas mulheres. As taxas de incidência variam entre as diferentes regiões do planeta, com as maiores taxas nos países desenvolvidos.
Para o Brasil, foram estimados 73.610 casos novos de câncer de mama em 2023, com um risco estimado de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A doença também ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil.
Tribuna do Norte