O advogado e ex-deputado federal, Ney Lopes, presidiu a Comissão Mista do Congresso Nacional que deliberou sobre o projeto para implantação do Plano Real, disse que o Brasil, à época, “assemelhava-se a Argentina de hoje”. Ney Lopes lembra que no país “ocorria processo de explosão inflacionária que chegou a 6.800%, no início de 1990”.
Lopes relatou que “ao longo de 15 anos, entre 1980 e 1994, a inflação no Brasil esteve fora do controle. Isso significava que os produtos custavam 68 vezes o preço de um ano antes”.
“Mais bem-sucedido plano econômico brasileiro”, prosseguiu Lopes, o Plano Real foi debatido intensamente na Comissão Mista integrada por deputados e senadores. “Ao final aprovou-se a Medida Provisória nº 542/94, assinada por Itamar Franco, mas somente aprovada pelo Congresso Nacional dois meses depois”.
Para Ney Lopes, a MP permitiu a estabilização econômica do país e abriu portas para o crescimento. “Convidei à época, o empresário Álvaro Alberto, do Rio Grande do Norte para exposição na Comissão Mista. Ele dirigia entidade de crédito habitacional a nível nacional e contribuiu nas discussões. Recebeu aplausos gerais. Uma honra na minha vida parlamentar”, continuou.
Do ponto de vista político, Ney Lopes considera que o Plano Real “criou confiança para que o pais crescesse com estabilidade econômico financeira. A governabilidade do futuro tornou-se possível e a cidadania se fortaleceu”.
Governador e senador da República no período de transição (1994/95) do Plano Real, José Agripino declarou que “viveu uma inflação de 20% ao mês, viu como o Estado perde o controle das finanças e como a economia fica desestimulada para fazer qualquer investimento no regime de hiperinflação, que era o que acontecia”.
Para José Agripino, o Plano Real “foi um plano corajoso, bem elaborado, por gente competente, com o espírito público, mas acima de tudo com muita coragem para fazer o que o país precisava”.
Agripino disse que o Plano Real “deu ao país de volta a confiança em investir. O país não evolui se não tiver coragem pra investir, coragem principalmente do setor privado. O setor privado não investe com a inflação de 10, 15, 20% ao mês, porque perde a capacidade de planejamento e de prever o futuro. É uma situação totalmente instável”.
“O Plano Real domou uma coisa que ninguém esperava que pudesse acontecer no Brasil, ocorreu o milagre do controle da inflação. A partir daí, o país retomou progressivamente o processo de planejamento e de investimentos que fizeram com que o PIB do país, em seguida, voltasse a crescer”, acrescentou Agripino,
José Agripino declarou, ainda, que o Plano Real “foi feito às custas de reações de diversos setores, mas às custas de coragem e de uma coisa que finalmente deu certo. Para que isso desse certo, funcionou muito a credibilidade do então Governo de Fernando Henrique Cardoso”.
Segundo Agripino, “na hora em que se doma a inflação, os salários ficam presumíveis, as pessoas ganham uma coisa e sabem o que é que podem comprar com aquela coisa, o que não acontecia antes. Então, a previsibilidade das despesas voltou a acontecer no plano doméstico de cada brasileiro”.
Finalmente, Agripino demonstra uma certa preocupação com o impacto que a política econômica do atual governo pode ter sobre os fundamentos do Plano Real, que “teve feito naquele momento, depois disso, muitas coisas foram acontecendo. O orçamento r as contas públicas hoje, que é o maior dos problemas do governo, é produto do anti-real. Significava controle dos gastos públicos, fundamentalmente. Hoje, o governo quer briga com o Banco Central para afrouxar as contas públicas, gastar mais do que a arrecada, o que promove a retomada da inflação, o que é um perigo para o que o Plano Real propiciou ao Brasil”.
O ex-deputado-federal, Henrique Eduardo Alves, acompanhou as discussões na Câmara dos Deputados e disse que “teve a honra de viver aquele momento no quinto mandato pelo Rio Grande do Norte. “O presidente Itamar Franco com o país vivendo uma hiperinflação e absoluta desorganização orçamentária pós-governo Collor (1990/1993) convida Fernando Henrique Cardoso para ministro da Fazenda em 1993. E com seu talento enfrenta a crise convocando grupo de economistas brilhantes de sua geração: Pedro Malan, Lara Resende, Armínio Fraga, entre outros e fizeram o tão debatido à época Plano Real”.
Henrique Alves afirmou que o Plano Real “promoveu o crescimento e a estabilidade econômica, os gastos do Governo, desindexou a moeda à inflação e introduziu a nova moeda: o Real. O importante: não congelou qualquer preço”.
Tribuna do Norte