Margareth Grilo
Editora de Economia
Exportar e aumentar o lucro na produção de frutas é um sonho acalentado por 12 pequenos produtores da região da Maisa, em Mossoró, no Oeste do Rio Grande do Norte. São seis produtores de melão, que juntos produzem em torno de mil toneladas da fruta, por ano; um de mamão, com 300 toneladas produzidas anualmente, e cinco de melancia, com produção perto de mil toneladas.
Cerca de 90% das frutas estão indo, desde fevereiro deste ano, para grandes redes de supermercados do Rio Grande do Norte, principalmente de Natal, do Ceará e de Pernambuco, além de algumas cidades do Sul do Brasil, por meio de uma empresa parceira, a Viva Agrícola. Eles já produzem em uma área de 240 hectares, 10 variedades de mamão, entre eles, o formosa, e de melão, e três variedades de melancia, entre elas, a personal ou baby, que são as melancias pequenas. Quatro dos 12 produtores ainda se preparam para o plantio.
Há pouco mais de seis meses, através de uma consultoria do Sebraetec esse grupo começou a trabalhar para aumentar a produtividade, ou seja, o volume produzido e a qualidade do produto, focados nos padrões do mercado externo. Em outra frente, a Viva Agrícola, que completou, este ano, 15 anos, recebe consultoria para obter a certificação necessária à exportação de frutas, o selo Global Gap – um conjunto internacionalmente reconhecido de normas agrícolas dedicadas às Boas Práticas Agrícolas (Good Agricultural Practices).
“Além de levarmos a questão da inovação e das boas práticas agrícolas para esses pequenos produtores, procuramos perceber o cenário econômico mundial, para onde estão indo as nossas exportações e tentar inseri-los nesse mercado”, explica Franco Mário Ramos, gerente do projeto de fruticultura do Sebrae do RN.
Segundo ele, a perspectiva é trabalhar essa empresa e esses pequenos produtores para que, “num curto espaço de tempo, nessa safra 2024/2025, ou na do próximo ano”, eles possam iniciar a exportação. “A gente está com esse trabalho acompanhando, orientando, claro que vai depender muito da capacidade de investimento de cada pequeno produtor e também de a gente identificar bons compradores, para essa relação comercial”, comenta Franco Ramos.
O gerente do projeto de fruticultura explica que uma das frentes de trabalho do Sebrae nessa questão da fruticultura é exatamente prospectar compradores internacionais e nacionais e ajudar, principalmente, o pequeno produtor a conquistar o mercado externo, principalmente o europeu.
Ney Maranhão, consultor que atua no projeto junto aos pequenos produtores, explica que o acompanhamento é feito em campo, dia sim, dia não, visitando os produtores, orientando desde o planteio, manejo cultural até a colheita para que adotem boas práticas agrícolas.
“A empresa que me contratou via Sebrae, banca uma porcentagem dessa consultoria e o Sebrae a outra porcentagem. Esse trabalho é feito em campo e também via administrativa, junto à empresa nas atividades de galpão e packing house, uma instalação de processamento usada na agroindústria de frutas, legumes e verduras para a venda ”, explica Ney Maranhão.
A empresa Viva Agrícola que entra com esse custo da consultoria, compra aos pequenos produtores cerca de 80 toneladas de melão, melancia e mamão por semana, e revende, principalmente, para supermercados, segundo o CEO da empresa, Evandro Borgato.
“Nosso objetivo propriamente dita é melhorar a produção, a produtividade. Existem muitos pequenos produtores que querem produzir, mas não têm condições financeiras e, muitas vezes, técnica e, na ausência de um profissional capacitado, a consultoria entra para melhorar esse processo, para dar mais facilidade, para produzir melhor, então essa é a parte da consultoria em campo”, explica Ney Maranhão.
“Como todos os pequenos produtores precisam da figura do atravessador, essa empresa que contratou o serviço Sebrae, descarta esse atravessador e faz esse trabalho direto com esse produtor de campo, facilitando logística e preço”, detalha co consultor do projeto.
ELI Agro irá contribuir para o fortalecimento do setor
O Ecossistema local de Inovação (ELI) para a agroindústria, lançado em maio deste ano, irá contribuir, segundo o gerente do projeto de fruticultura do Sebrae do Rio Grande do Norte, Franco Mário Ramos, para a evolução e fortalecimento de pequenos, médios e grandes produtores. Ele destaca a importância da profissionalização. “Um detalhe que é importante dizer é o seguinte: quem não se profissionalizar, levar coisa como economicamente a sério, sem não fazer ajuste, não evolui”, afirmou Franco Ramos, ressaltando que o mercado é exigente.
“Tem que ter investimento, tem que ter controle, tem que ter qualidade, tem que usar o que é permitido. Se você usar um defensivo que não é permitido pela legislação brasileira no Internacional, você está fora, e vai gastar muito mais para desfazer isso”, alerta o gerente da fruticultura, ressaltando que o Rio Grande do Norte está muito bem nessa questão, e é muito competitivo no mercado de frutas.
O ELI Agro agrega, segundo ele, várias instituições e é dedicado exclusivamente a trabalhar em inovação e tecnologia. Franco Ramos esclarece que o Sebrae está apresentando o ELI Agro para o setor produtivo em reuniões, encontros, feiras e eventos, e a meta é levar startups para desenvolver soluções para a agropecuária. “É interessante esse movimento, porque a gente quer levar as necessidades do setor, as demandas, as dores para as universidades, para as startups que estão querendo desenvolver soluções possam minimizar os problemas do agro, para que ele inove. Quanto mais tecnologia, mais produtividade, mais eficiência”, comenta o gerente.
Franco Ramos destaca que o uso da inteligência artifical, de de equipamentos autônomos, é interessante porque faz com que o sucessor daqueles produtores mais antigos queiram voltar pra atividade. “O uso de um sistema, de um equipamento de ponta faz com que os filhos dos produtores percebam uma nova fase do agro. Às vezes há uma resistência porque eles pensam no sofrimento dos pais e dos avós, mas agora com a internet, com tablet no agro, com sistemas e acompanhamentos modernas, tecnológicas, eles passam a se interessar”, analisa Franco Ramos.
Ele destaca ainda que para todo produtor, seja ele pequeno ou médio, um dos gargalos em todas as quatro culturas – manga, melão, mamão e melancia – é a questão da mão de obra. “O custo de energia não é barato, o custo de insumo não é barato, mas a mão de obra é um problema tanto quanto a logística, ou até maior. Mão de obra não está fácil, não tem mão de obra qualificada demais. Os produtores de melão até que tem [mao de obra], porque eles já estão há muito tempo no mercado”, afirma.
“Queremos que produtores e empresa cresçam juntos”
O agrônomo Ney Maranhão, que está constantemente fazendo visitas às áreas de produção dentro do projeto, afirma que já há avanços. Todos os produtores recebem, no mínimo, três visitas na semana, quando são passadas as orientações técnicas e correções que precisam ser feitas.
“Nesse começo, já melhoramos a produtividade, que é a produção por unidade de área de alguns desses produtores. Mas ainda vamos começar a colher. Alguns estão quase dobrando a produção”, completa Ney Maranhão. Ele afirma que os pequenos produtores estão animados com a possibilidade de exportar, principalmente, porque o valor do produto para exportação é muito melhor que internamente.
“A partir do momento que a empresa consiga esse selo, tanto ganha mais a empresa como esse pequeno produtor. E nossa intenção é que empresa e produtores cresçam juntos”, disse ele.
Evandro Borgato, CEO da Viva Agrícola, que sempre autou no mercado interno, acredita no sucesso da exportação das frutas produzidas na sede da Maisa, em Mossoró. Existem mais 13 produtores interessados em ingressar no ‘pool’. “Nunca exportamos e a gente começou a pensar nisso a partir destse ano com essa parceria com o Sebrae, onde através da Viva, a gente fará o processamento das frutas no nosso packing house, dando apoio comercial e logístico para o envio de mercadorias ao mercado externo”, diz ele.
O empresário explica os primeiros passos do projeto. “Os consultores do Sebrae e os agrônomos que iriam atuar no projeto precisaram entender, primeiro, qual é o padrão de mamão, de melão e de melancia que os clientes da Viva querem”, disse ele. No projeto, o Sebrae entra com 70% do valor da consultoria e a empresa com 30%.
“Além de dar assessoria técnica, a gente dá insumos iniciais para a produção. Se o pequeno produtor não tem um trator, não tem implementos agrícolas, a gente entra com o trator, com o implemento para preparar o solo, fornece a mangueira, a manta e as mudas, e a responsabilidade dele é seguir as aplicações de defensivos, de fertilizantes e a irrigação, seguindo a orientação que o agrônomo faz”, detalha.
Tribuna do Norte