O cenário de endividamento no Rio Grande do Norte tem apresentado uma tendência de alerta. Segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), o número de inadimplentes no Estado aumentou 1,75% em maio de 2024 em comparação ao mesmo período do ano anterior. O valor médio das dívidas por consumidor no Estado é de R$ 4.370,05, mas com uma significativa parcela (44,98%) das dívidas sendo de até R$ 1 mil. Já o tempo médio de atraso nas contas é de 27,5 meses, destacando que 42,31% dos devedores estão inadimplentes entre um a três anos.
O crescimento vai na contramão da média da região Nordeste, que apresentou uma redução de 1,20%, e da média nacional, que teve uma ligeira queda de 0,04%. A análise por faixa etária revela que a maioria dos devedores potiguares se encontra na faixa dos 30 a 39 anos, representando 25,38% do total. Em termos de gênero, o levantamento mostra que as mulheres constituem 52,43% dos inadimplentes, enquanto os homens correspondem a 47,57%.
De acordo com José Lucena, presidente da CDL Natal, o cenário preocupa porque o aumento do endividamento é sistemático. “O que mais chama a atenção nos dados é o aumento constante do número de inadimplentes nos últimos meses. Esse crescimento é preocupante, pois afeta diretamente a economia local, o poder de compra dos consumidores e a saúde financeira das famílias potiguares. Chama atenção ainda o fato de 44,98% dos consumidores endividados terem dívidas até R$ 1 mil, o que consideramos ser de fácil negociação e quitação, contudo mês a mês o que temos visto é o crescimento da inadimplência”, comenta.
Em relação ao número de dívidas em atraso, o aumento foi ainda mais expressivo, com um crescimento de 6,39% em maio de 2024 comparado a maio de 2023. Este aumento supera as médias regional e nacional, que registraram 1,29% e 0,76%, respectivamente. O setor bancário lidera como principal credor, com 70,36% do total das dívidas no Estado. A alta concentração de dívidas bancárias indica um uso frequente de produtos como cartão de crédito e cheque especial, conhecidos pelas taxas de juros elevadas.
Pesquisas do SPC Brasil mostram que as principais causas da inadimplência são imprevistos de saúde, morte, manutenção da casa ou carro (20%), redução da renda (17%), perda do controle do orçamento (16%), aumento dos preços (14%) e desemprego do entrevistado ou de algum membro da família (12%). José Lucena, presidente da CDL Natal, diz que diversos fatores podem ter contribuído para esse cenário e acrescenta o impacto da inflação na conta do endividamento.
“A inflação elevada tem corroído o poder de compra dos consumidores, fazendo com que muitas pessoas recorram ao crédito para suprir suas necessidades básicas. Outro fator relevante é o aumento das taxas de juros, que encarece o crédito e dificulta o pagamento das dívidas. Por fim, a falta de educação financeira e o consumo descontrolado também desempenham um papel crucial nesse cenário”, detalha.
Educação financeira para reduzir dívidas
Uma das soluções apontadas pela contadora Radna Rocha para reduzir a inadimplência é a promoção da educação financeira. “Temos um cenário vasto. As famílias não têm o hábito de fazer gerência financeira do dinheiro. O primeiro passo é justamente passar a tratar e a discutir um orçamento familiar, um orçamento de curto prazo, aquele do mês, mas também um orçamento que contemple o médio prazo, o longo prazo, né, para um ano, para dois, porque a gente sabe que algumas contas, elas acontecem regularmente”, diz.
Ao tomar conhecimento do gasto financeiro da família, o indicado é colocar tudo na ponta do lápis e elaborar um orçamento que possa ser executado, adequando renda às despesas.
“Quando o orçamento é maior do que a renda, ou existe uma necessidade de readequação, é preciso ver despesas que estão sendo gastas com valores mais altos, como elas podem ser reduzidas ou ir em busca de ações que promovam o aumento da renda. O empreendedorismo, por exemplo, é uma grande fonte de geração de renda para as famílias. E isso também precisa ser fomentado dentro do nosso Estado. Um fomento e um incentivo ao empreendedorismo”, destaca a profissional.
4 a cada 10 brasileiros estão negativados
Embora tenha havido uma pequena queda no número de inadimplentes em relação ao mês anterior, o cenário ainda é preocupante. O Indicador realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) aponta que quatro em cada dez brasileiros adultos (41,28%) estavam negativados em junho de 2024, o que representa 67,98 milhões de consumidores.
Em comparação com junho de 2023, o percentual de inadimplentes do Brasil teve crescimento de 0,53% em junho de 2024. Na passagem de maio para junho, o número de devedores caiu 0,43%. O estudo, que abrange informações de capitais e interior de todos os 26 estados da federação, além do Distrito Federal, a CNDL e o SPC Brasil registram que a variação anual observada em junho deste ano ficou acima da observada no mês anterior.
A queda observada no mês de junho pode ser um reflexo da restrição de negativação das pessoas afetadas pela tragédia no Rio Grande do Sul, avalia José César da Costa, presidente da CNDL. “O indicador deve refletir essa medida nos próximos meses. O fim do ciclo de queda dos juros deve também impactar, dado que o custo do crédito se eleva, por isso é importante que o consumidor evite grandes dívidas e priorize manter o orçamento em dia”, comenta.
Tribuna do Norte