O calor mata na Europa e a população com menores rendimentos é quem mais sofre. A relação entre os dois fatores tem sido debatido por especialistas, especialmente na Espanha, onde foi analisado como o calor extremo afetou 17 distritos em Madri. O estudo mostra que pessoas de grupos de rendimento abaixo da média têm mais probabilidade de morrer diante de altas temperaturas do que outras com maior capacidade econômica.![]()
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“É senso comum”, afirma Julio Díaz Jiménez, pesquisador do Instituto de Saúde Carlos III, de Madri, e coautor da análise. Ele lembra que o clima quente, potencializado pela poluição de carbono, matou quase 50 mil pessoas em toda a Europa, em 2023.
“Precisamos fazer soar o alarme de que isso é extremamente urgente”, afirma Yamina Saheb, autora principal do mais recente relatório do IPCC, Painel Intergovernamental dedicado à mitigação das Alterações Climáticas.
“Precisamos decidir se esta é a última vez que teremos pessoas morrendo por causa do calor em países europeus”, acrescenta.
Díaz Jiménez, ao analisar o impacto das altas temperaturas que atingiram 17 distritos da capital espanhola, revela que as ondas de calor tiveram impacto na mortalidade em apenas três áreas — aquelas onde o rendimento familiar estava abaixo da média.
“Uma onda de calor não é a mesma quando se está num quarto partilhado com outras três pessoas e sem ar condicionado, comparativamente a quem está num condomínio com acesso a piscina e ar condicionado” argumenta Díaz Jiménez, citado na publicação The Guardian.
Ampliando para todo o território espanhol “vimos a mesma coisa”, afirma. E deixa claro: “Quando se trata de calor e vulnerabilidade, o fator-chave é o nível do rendimento”.
No início deste ano, a organização Save the Children alertou que uma em cada três crianças na Espanha não conseguia se refrescar em casa. A instituição de defesa da criança afirmou que essa precariedade apresenta influência “extremamente prejudicial” na saúde mental e física de mais de 2 milhões de crianças.
As pessoas pobres vivem, na maioria das vezes, em casas de menor qualidade, lotadas com familiares, e com falhas graves de ventilação. O rendimento baixo deixa essa faixa da população mais propensa a sofrer condições que podem ser exacerbadas pelo calor extremo.
Muitos desses trabalhadores têm atividades ligadas à agricultura e construção, onde estão normalmente expostos a altas temperaturas.
A relação entre estresse derivado do calor e a pobreza também tem sido debatido na Universidade norte-americana de Maryland, que documentou como bairros de baixo rendimento no país tinham maior probabilidade de serem mais quentes do que seus equivalentes menos pobres
A Europa está aquecendo a um ritmo muito mais rápido do que outras partes do mundo. O ano de 2023 foi classificado como o mais quente registrado até agora e 2024 vai na mesma direção.
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Agência Brasil
