Consolidar a saúde financeira é um dos principais pilares para evitar que uma empresa seja mais um número nos índices de mortalidade empresarial. De acordo com o levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 40% das empresas no Rio Grande do Norte registram problema em reajustar preços dos cardápios para acompanhar a alta da inflação durante o mês de agosto deste ano. O quantitativo é superior ao pesquisado em janeiro, quando 31% apontaram sofrer dessa dificuldade, um crescimento de 29%.
De acordo com Paolo Passariello, presidente da Abrasel/RN, a dificuldade de equilibrar as despesas com um lucro ideal vem sendo uma adversidade não apenas entre as empresas potiguares, mas sim um cenário nacional que busca evitar o afastamento dos clientes. “Para evitar de piorar ainda mais essa situação, os restaurantes tentam repassar o mínimo possível desses reajustes”, explica.
Para os restaurantes que operam em sistema self-service e estão em regiões de baixa circulação de pessoas, aumentar o preço de venda é uma dificuldade ainda maior. Essa é a situação de Djanilma Vieira, 40 anos, gerente de um restaurante localizado em uma galeria na Cidade Alta. Com preço fixo de R$ 16,99 para consumo no local e R$ 12,00 a R$ 20,00 na marmita, ela explica que não conseguiu fazer mudança nos valores por temer baixa na clientela.
“Os custos que nós temos são altos com a demanda de compra e não temos com repassar ao cliente, então o lucro acaba diminuindo para permitir que a empresa continue de pé. Não tem como. A gente acaba tendo perda e tendo que se reinventar de uma outra forma para o mercado”, explica a gerente, que há três anos atende aproximadamente 60 pessoas por dia.
Hoje, a empresa de Djanilma não abre no prejuízo, mas ela relata que houve um aumento de mais de 7% nos custos durante os últimos meses de operação que não conseguiram ser compensados. “Não tem o lucro que deveria, mas é procurando, equilibrando e segurando até onde pode”, afirma.
Nos dados de endividamento publicados pela Abrasel, aproximadamente 36% das empresas do Rio Grande do Norte estão registrando pagamentos em atraso. Esse índice é constante desde 2023, evidenciando o desafio atual que ameaça a sobrevivência das empresas.
A percepção na queda de movimento, uma das justificativas apontadas pelos empresários para esses dados, é reiterado pelos resultados da pesquisa Abrasel-Stone, em que foi constatado uma redução de 5,4% no fluxo de clientes durante o mês julho em comparação ao mês anterior. Em relação ao mesmo período de 2023, o recuo foi de 6,3%, a maior até o momento.
Sérgio Schultz, 69 anos, empresário de um restaurante na Avenida Princesa Isabel, explica que aplicou um reajuste de 10% nos preços praticados, considerando a necessidade do mercado. Há mais de 18 anos no mesmo local, o gaúcho que adotou o Rio Grande do Norte, explica que a clientela é fidelizada e não gerou uma grande diferença na circulação de pessoas.
“Hoje a gente consegue estar dentro do normal financeiramente. Nem deslanchando, mas também não deixo de pagar meus compromissos. Somos uma empresa familiar que aprendeu muito com a pandemia, então hoje nos conseguimos equilibrar”, afirma. Apesar disso, Sérgio lamenta o baixo movimento no bairro que registra uma queda exponencial durante os últimos anos.
Na comparação dos períodos pré e pós pandemia da covid-19, o presidente da Abrasel explica que o lucro dos bares e restaurante saiu de uma média de 18% de lucro líquido para 5% a 10%, decisão voltada para evitar a queda de consumo dos clientes.
Como alternativa para permitir um maior fôlego ao empresário, Paolo Passariello defende uma redução de impostos aos bares e restaurantes. “É uma redução da carga tributária para poder ter mais margem. Ter uma margem de lucro maior permite que a gente reinvestia no negócio, além do aumento da produtividade”, pontua.
Tribuna do Norte