“Trabalho também é saúde mental”, diz neuropsicóloga. Foto: Cedida
Manter o corpo e a mente saudáveis é um dos principais pilares para prevenir transtornos como ansiedade, depressão, burnout e outros problemas que afetam a sociedade contemporânea, conforme analisa a neuropsicóloga Gleyna Lemos. E a chave para o equilíbrio, segundo ela, está no autocuidado e na forma como nos relacionamos com os outros. Com o aumento dos problemas que afetam a saúde mental – em Natal, por exemplo, o índice de pessoas com depressão cresceu de 11,8% em 2021, para 13,2% no ano passado, segundo pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde – falar sobre prevenção é fundamental. O dia 10 de outubro (nesta quinta-feira), Dia Mundial da Saúde Mental, vem para reforçar o debate sobre o tema.
“Não existe saúde do corpo se você não tem uma boa saúde mental, ou seja, é preciso equilíbrio. Com hábitos saudáveis, o que inclui atividade física regular, momentos de escape no dia a dia para si mesmo, com atividades como caminhada e outros exercícios físicos, um momento de leitura, uma aula de dança ou de desenho. É o que a gente chama de situação de intencionalidade, quando a pessoa entende que aquele é o momento dela”, explica Gleyna Lemos. A neuropsicóloga chama atenção ainda para as situações de rotina, as quais devem ser administradas levando em conta as questões de saúde mental.
Ela frisa, ainda, que os cuidados com alimentação e atividades que envolvem momentos de socialização não devem ser deixados de lado. “Trabalho também é saúde mental. É importante que as pessoas façam aquilo que gostam, evitem a produtividade exacerbada e encontrem momentos para socializar”, orienta a especialista. Lemos lembra que estar atento a sinais que indiquem a necessidade de ajuda é primordial para manter em dia a saúde mental. “Alguns desses sinais são sutis e outros mais evidentes, como alterações de humor, irritabilidade e inquietude”, explica.
Pensamento acelerado, sentimentos de desesperança, desamparo e inutilidade, também são sinais importantes, segundo a neuropsicóloga. “Às vezes as pessoas têm um ou mais desses sentimentos e não atribuem, necessariamente, a uma condição de saúde mental. Além disso, eu destacaria o isolamento e a qualidade do sono (se a pessoa tem dificuldade para dormir ou acorda no meio da madrugada) e outras alterações como cansaço sem motivo aparente e falta de energia que podem se somar a fatores físicos”, diz.
Burnout
Outro problema comum quando se fala em saúde mental é o esgotamento emocional, conhecido como burnout. Gleyna Lemos aponta que o distúrbio requer uma abordagem multidisciplinar, uma vez que os cuidados envolvem mudanças no ambiente de trabalho e controle do excesso de compromissos. “Existem estratégias globais, como a atividade física regular, técnicas de mindfulness, onde a pessoa foca mais no presente para evitar ansiedade e em um planejamento adequado da rotina”, explica a neuropsicóloga.
Crianças e adolescentes também precisam de cuidados referentes à saúde mental. A atenção ao uso das telas deve ser considerada. “Muitas crianças e adolescentes vão dormir e já acordam com o estímulo das telas e isso às vezes dificulta o sono. É um uso que tem recomendações e limites. Até dois anos, não se deve ter nenhum contato, depois pode inserir com um aumento gradativo de tempo. Para um adolescente, duas horas por dia seria o ideal, mas em avaliações a gente encontra aqueles que passam até oito horas diárias conectados”, alerta.
Nos adolescentes, segundo Gleyna Lemos, os transtornos mentais podem ter manifestações diversas como isolamento, mudanças nos hábitos alimentares e dificuldades na escola. “É preciso um suporte para que eles possam lidar com dificuldades emocionais e cognitivas”, diz a especialista. Ela comenta que a área em que atua, a neuropsicologia é fundamental para identificar padrões de funcionamento cognitivo que podem identificar transtornos.
“É essencial que todas as pessoas tenham a possibilidade de fazer uma avaliação neuropsicológica para compreender dificuldades encaradas ao longo da vida, que às vezes culminam em episódios depressivos, transtornos de ansiedade generalizada ou crises de pânico. A neuropsicologia contribui no sentido de ajudar a entender melhor o perfil cognitivo para que seja oferecido um tratamento mais eficaz”, ensina Gleyna Lemos.
Em Natal, os serviços para cuidados de saúde mental são ofertados desde as Unidades Básicas de Saúde, para casos menos graves, até as Unidades de Pronto Atendimento, que contam com os serviços de emergência psiquiátrica. Já os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são específicos para pessoas com transtornos mentais graves e persistentes, como aqueles decorrentes do uso de álcool e outras drogas, e situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços sociais.
Tribuna do Norte