O Itamaraty irá se queixar ao governo de Donald Trump pelo tratamento dado aos imigrantes brasileiros em um voo de deportação. A decisão foi tomada depois que o chanceler Mauro Vieira desembarcou em Manaus e conversou com autoridades militares brasileiras para entender os detalhes do que havia ocorrido.

A informação da cobrança que será feita, antecipada com exclusividade pelo UOL, foi confirmada nas redes sociais pelo Itamaraty.

“O Ministro Mauro Vieira reuniu-se esta noite em Manaus com o delegado Sávio Pinzón, superintendente interino da Polícia Federal no Amazonas, e com o major-brigadeiro Ramiro Pinheiro, comandante do 7º Comando Aéreo Regional”, diz a postagem. Na reunião, “foi efetuado relato detalhado sobre os incidentes no aeroporto Eduardo Gomes envolvendo cidadãos brasileiros transportados em voo de deportação do governo norte-americano”.

De acordo com a chancelaria, “a reunião subsidiará pedido de explicações ao governo norte-americano sobre o tratamento degradante dispensado aos passageiros no voo”.

O entendimento do governo brasileiro é de que houve uma violação dos acordos entre os dois países e haverá uma cobrança por parte do Itamaraty para que o entendimento seja cumprido. O ministro voltava de reuniões no Caribe e seu voo fez uma escala em Manaus, exatamente onde estavam os brasileiros.

O ministro escutou das autoridades militares que a aeronave americana estava em péssimo estado e que, diante dos demais problemas, alguns dos passageiros se revoltaram. O fato de estarem algemados ainda ampliou a tensão e foi considerada como uma violação dos entendimentos entre os dois países.

Ala do governo defende suspensão de voos; México vetou

Enquanto isso, membros do governo brasileiro avaliam não autorizar novos voos com deportados, caso condições mínimas não sejam asseguradas aos imigrantes que retornam ao país.

A crise com o Brasil ocorre no mesmo dia em que o governo dos EUA reconheceu que não foi autorizado pelo México para enviar um avião com imigrantes que seriam deportados. O motivo da recusa mexicana não foi revelado.

Em diversos ministérios brasileiros consultados pelo UOL, a busca é por um equilíbrio entre proteger os brasileiro e evitar desenhar contornos de uma potencial primeira crise com o governo de Donald Trump.

No Executivo, o tema está sendo examinado e não se descarta que uma ação seja realizada com Washington nos próximos dias.

Um dos cenários seria o de indicar aos representantes da Casa Branca que o Brasil exige condições mínimas para que esses voos sejam autorizados.

Uma delas seria a presença de funcionários do setor consular do Brasil no momento do embarque. Outra exigência seria a de não permitir que as pessoas deportadas estejam algemadas. O governo avalia que não existe motivo para considerar essas pessoas como uma ameaça. Portanto, o tratamento seria inadequado.

Dias antes da posse de Trump, o Brasil assinou uma declaração conjunta com outros países latino-americanos alertando para as “deportações em massa” e denunciando o risco de uma “criminalização dos imigrantes”.

Mas um veto também pode ter duas consequências negativas: a primeira é abrir uma crise diplomática com Trump, algo que o Brasil quer evitar a todo custo. Outro problema potencial seria prejudicar os próprios brasileiros.

O acordo de deportação fechado entre os dois países ainda em 2017 é considerado pelo governo brasileiro como uma base de diálogo. Um dos objetivos é o de evitar que o brasileiro, uma vez detido nos EUA, permaneça de forma indefinida no território americano.

Notícias UOL

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