Fernando Azevêdo
Repórter
A inclusão produtiva é um dos meios de integrar empreendedores em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que muitas vezes têm menor escolaridade e menos rendimento com seu trabalho. Neste recorte, mulheres e pessoas negras, por exemplo, desenvolvem suas atividades, mas ainda recebem menos que outros grupos que prestam serviços na mesma área. Para outras pessoas, o empreendedorismo nem sempre é visto como opção.
Considerando isso, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) dispõe de iniciativas dentro do Programa Plural, que também atua no Rio Grande do Norte. A reportagem da TRIBUNA DO NORTE conversou com Elisete Lopes, gestora do Programa e de negócios inovadores de impacto socioambiental, para conhecer tais ações de inclusão produtiva.
Segundo ela, os públicos-alvo do Plural são grupos sub-representados, como mulheres, negros, povos originários, moradores de comunidades e público LGBTQIA+: “Seriam públicos que têm menor acesso à educação e um menor acesso a diversas oportunidades”, define. “A gente leva para esse grupo sub-representado a oportunidade do empreendedorismo como uma forma de transformação social, de geração de renda e para desenvolver até a qualidade de vida”, diz.
Incluir esses empreendedores e ver neles possibilidades de negócios bem sucedidos é um dos propósitos do Programa, conta Elisete. “A gente encontra pequenos negócios, mas que têm potencial de crescimento, mas que precisam também de conhecimento, de orientação”, explica. O Sebrae desenvolve atividades junto a essas populações para ensinar desde como divulgar seu produto até como precificá-lo e ter lucro.
Elisete destaca o Transformaê, um dos braços do Programa Plural, que forma mulheres empreendedoras. “Apoiamos o empreendedorismo feminino, entendendo que a mulher, muitas vezes, precisa de um apoio maior nessa questão do empreendedorismo, pela multitarefas, por uma série de questões do dia a dia dela”, afirma.
Ela observa que o rendimento das mulheres, embora elas empreendam muito, ainda é menor quando comparado a negócios liderados por homens. No RN, de acordo com dados do Sebrae, as mulheres respondem por um terço dos pequenos negócios. São 122,3 mil donas de negócios. Elisete aponta que muitas mulheres, se questionadas se são empreendedoras, podem não se reconhecer assim, por terem uma atividade mais informal. “Elas já desenvolvem alguma atividade, por exemplo, vendem dindin, mas elas não se consideram empreendedoras ainda”.
O Transformaê atende especialmente cidades do interior, em municípios que aderem ao programa Cidade Empreendedora, oferecendo capacitações de forma lúdica, para que públicos de diferentes escolaridades possam acompanhar. A metodologia é potiguar e está sendo replicada em outros ramos do Sebrae Nacional.
Nem todas as participantes já chegam com uma ideia de empresa, algumas se descobrem no processo e desenvolvem seu potencial empreendedor. “O programa culmina com uma feira, onde elas vão fechar o ciclo do empreendedorismo, que é a venda, colocar o dinheiro no bolso e pensar: poxa, fui eu quem fiz. Eu sou capaz de gerar renda através dessa atividade, né? Muitas continuam a empreender”, diz a gestora do projeto.
De São Gonçalo do Amarante, onde o Transformaê esteve em junho, a vendedora Ivanilda do Nascimento, 42 anos, foi uma das participantes. Para Ivanilda, significou uma oportunidade de qualificação a qual ela dificilmente teria acesso. A partir dos ensinamentos, ela planeja abrir sua própria empresa em breve.
“A minha participação foi ótima. Esse projeto está abrindo oportunidade para as mães de família e as pessoas que têm interesse em colocar seu próprio negócio. Muitas vezes, a gente não tem condições de pagar um curso”, declara. Atualmente, Nilda, como é conhecida, revende peças de vestuário infantil, de modo informal, e trabalha em uma loja como vendedora.
Ela conta que aprendeu muitos assuntos durante a capacitação, desde abordar clientes até criar um preço para o produto que vende. “Quando eu pensei em fazer esse curso, era justamente isso, para me aperfeiçoar. Esta é uma oportunidade única que a gente tem, de aprender. Eu não tive a oportunidade de fazer uma faculdade ainda, mas eu vou fazer. Eu fiquei tão feliz com esse curso. Eu me senti viva novamente”, comemora.
Pessoas negras aumentam participação no mercado
As pessoas negras, segundo dados do Sebrae, têm aumentado sua participação na economia e somam a maioria dos empreendedores do Brasil. No terceiro trimestre de 2023, havia 15,2 milhões de negros donos de negócios, que representavam 52% do total do País. 13,7 milhões (46,8%) eram brancos e 418 mil (1,4%) eram de outras raças, como amarela e indígena.
Porém, a pesquisa do Sebrae apontou que os empreendedores negros têm o menor nível de faturamento entre todos os grupos pesquisados (77,6% recebem até dois salários-mínimos por mês), além do menor nível de escolaridade (45,1% estudaram até o ensino fundamental e apenas 13,2% têm ensino superior). Das empresas dos mais de 15 milhões de empreendedores negros, somente 23,6% eram formalizadas.
Para atender a esse grupo, o Sebrae tem o Projeto Quartzo, o qual Elisete diz que tem gerado muitos resultados, apesar de não estar ativo em 2024. O projeto também leva uma série de capacitações, materiais e até recursos financeiros para potenciais empreendedores ou para acelerar empreendimentos geridos por pessoas negras.
Tribuna do Norte