Com o cenário externo mais incerto e as mudanças na meta fiscal, o Comitê de Política Monetária do Banco Central termina nesta quarta-feira (8) a reunião que pode diminuir de 0,5 ponto para 0,25 ponto o ritmo de corte da Selic, a taxa básica de juros. A primeira fase do encontro nessa terça-feira (7) foi de análise da conjuntura, quando o colegiado revisita temas importantes para a tomada de decisão da taxa Selic. A definição dos juros básicos, atualmente em 10,75% ao ano, será divulgado a partir de 18h30 desta quarta-feira.

No mercado, é levemente majoritária a expectativa de que a cúpula do BC optará por uma redução menor da taxa, de 0,25 ponto porcentual, depois de um ciclo de seis cortes consecutivos de 0 50 pp, iniciado em agosto do ano passado. Conforme a pesquisa do Projeções Broadcast, a diminuição do ritmo é a aposta de 25 das 45 casas consultadas (55%). Duas semanas antes, a avaliação preponderante era de novo corte de meio ponto na taxa básica de juros – 20 instituições permanecem nesta posição.

Na reunião anterior, em março, os membros do Copom reduziram o período do forward guidance, retirando a sinalização de novos cortes do mesmo tamanho no plural. Com a mudança, o colegiado passou a mirar apenas o encontro atual, com o BC indicando um corte da mesma magnitude. Ao justificar a mudança, o colegiado alegou o aumento das incertezas domésticas e, principalmente, do exterior. Desde então, o quadro vem se mostrando ainda mais extremo e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, passou a adotar um discurso avaliado como mais hawkish em suas participações públicas.

Mais recentemente, houve a percepção de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central dos Estados Unidos), pode demorar mais tempo do que o esperado para reduzir suas taxas. Além disso, há uma preocupação ainda com a área fiscal doméstica, a resiliência do mercado de trabalho e as incertezas sobre a possibilidade de contágio para a inflação, em especial, a de serviços. Para completar, a tragédia com as enchentes no Rio Grande do Sul adiciona mais incertezas em relação à atividade e à perseguição da meta fiscal, a depender do modelo escolhido pelo governo federal para socorrer o Estado.

Houve alterações nas estimativas do mercado financeiro também colhidas pelo Projeções Broadcast para as próximas reuniões do Copom, elevando a mediana de junho de 10,00% para 10,25% ao ano e a de julho, de 9,75% para 10,00%. Algumas casas passaram a prever, inclusive, que a Selic terminará o atual ciclo em 10,25% ao ano – na ponta mais otimista, uma casa projeta uma taxa de 8 00% aa.

Ao comentar sobre a diminuição de prazo do forward guidance, em entrevista exclusiva ao Broadcast, o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Paulo Picchetti, disse que poderia ser uma ferramenta para o colegiado “ir mais devagar para chegar mais longe”. Os membros da cúpula da autoridade monetária têm evitado falar sobre números ligados ao juro terminal para não criar ruídos na comunicação do BC.

De acordo com o Boletim Focus, a mediana para a inflação de 2024 passou de 3,79% no último Copom, em março, para 3,72% na divulgação de ontem. Já para 2025, houve nova alta, de 3,51% para 3,53%, enquanto a estimativa para 2026 continuou estacionada em 3,50% – todas desancoradas em relação à meta contínua de 3,00%.

O Relatório Trimestral de Inflação de março mostrou que a estimativa do BC para a inflação permaneceu em 3 5% para 2024 e em 3,2% para 2025. Para 2026, a expectativa é de uma alta de 3,2%. Se houver uma redução no ritmo de cortes da Selic isso pode abrir uma nova frente de atritos entre a autoridade monetária e integrantes do governo Lula e o Partido dos Trabalhadores (PT). Se até março havia a certeza de que os juros cairiam em 0,5 ponto no encontro deste semana, pela sinalização dada pelo próprio Copom na última reunião, agora, as apostas majoritárias no mercado financeiro são de que a queda será menor, de apenas 0,25 ponto percentual, o que traria a Selic de 10,75% para 10,50%. O resultado será conhecido na noite desta quarta-feira.

“Entendo que essa vai ser a reunião mais importante desde agosto do ano passado, quando a Selic começou a cair. Há dúvidas sobre o ritmo de cortes, se será 0,5% ou 0,25%, se a decisão será unânime ou dividida, e se haverá indicações futuras pelo Copom, que precisará fazer um texto mais elaborado. Cada vírgula será analisada. As últimas reuniões foram praticamente um copia e cola das anteriores”, sintetiza o economista Luis Otávio Leal, da G5 Partners.

Apesar de a decisão do Copom acontecer sob os votos de um colegiado, uma redução do ritmo deve colocar novamente Roberto Campos Neto sob a mira do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de integrantes do PT, como a presidente do partido Gleisi Hoffmann. Desde a posse, Lula faz críticas abertas a Campos Neto, por ele ter sido indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e permanecido no cargo após a aprovação de lei que concedeu independência ao Banco Central.

Na visão do governo, e de integrantes da equipe econômica, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não há razão para a Selic permanecer tão elevada no Brasil, já que a inflação está dentro da margem de tolerância da meta, em 3,93% no acumulado de 12 meses até março, segundo o IPCA, do IBGE.

Reunião dividida?
Além da decisão em si, o mercado vai analisar se haverá divisão interna entre os diretores do BC e como será o voto de cada um dos noves diretores que compõem o Copom. Especialmente a postura do diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, será analisada, porque ele é o nome mais cotado para assumir a presidência do Banco, ao término do mandato de Campos Neto, em dezembro.

Galípolo tem a posição mais difícil entre todos os integrantes do colegiado. Se votar por uma redução menor, de 0,25 ponto, ganhará credibilidade com o mercado financeiro, o que poderá ajudar a conter as expectativas de inflação. Por outro lado, pode desagradar a Lula colocar a própria indicação sob risco.

Tribuna do Norte

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