Com investimentos estimados entre US$ 2 bilhões (R$ 11 bilhões) e US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões) apenas na primeira fase, o maior projeto de produção de hidrogênio verde no Brasil tem o lançamento previsto para o ano que vem. A informação é da diretora de Infraestrutura do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciana Costa, que revela ainda, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que o empreendimento pode chegar a US$ 7 bilhões (R$ 38,5 bilhões) nas fases posteriores de desenvolvimento.
A expectativa é de que a decisão final do investimento, a ser apoiado pelo banco de fomento, seja tomada até meados de 2025. O projeto vem sendo trabalhado pelo BNDES desde o ano passado. “Esperamos que, em 2025, o Brasil anuncie seu primeiro grande projeto de hidrogênio verde”, diz a diretora do BNDES.
A produção de hidrogênio com fontes de energia renováveis, que o faz ser classificado como “verde”, custa mais do que o dobro do produto gerado a partir de combustíveis fósseis, o hidrogênio cinza. Demanda assim o apoio do banco público para o investimento ser viável. “Talvez, perca dinheiro por um tempo até se tornar economicamente viável. Mas como toda tecnologia, ela é cara quando está sendo introduzida, e depois o preço cai”, comenta Luciana.
A vantagem do Brasil é que, além de ter já mais de 80% da energia elétrica gerada por fontes limpas, o preço da energia renovável do País é de aproximadamente metade da média de grandes economias, tendo como referência o custo nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A energia renovável corresponde a 70% do custo do hidrogênio verde, apontado como um dos mais promissores substitutos dos combustíveis fósseis.
“Somos muito competitivos em energia. Por isso que digo: o mundo está fazendo a transição energética e o Brasil está bem posicionado no setor de energia”, afirma a diretora. O Porto do Pecém, no Ceará, concentra os projetos comerciais mais avançados de hidrogênio verde no Brasil, com início de produção a partir de 2027.
O BNDES também pretende destravar investimentos em biometano – isto é, o gás combustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos como o bagaço da cana-de-açúcar e restos de alimentos. O banco avalia que o Brasil pode ser o quinto maior produtor mundial de biometano.
Risco climático
Luciana Costa lembrou que o BNDES já tem linhas de financiamento para adaptação e resiliência às mudanças climáticas, no âmbito do Fundo Clima, mas também está começando a testar modelos de riscos climáticos para serem incorporados aos processos de aprovação de financiamentos do banco de fomento. A executiva diz que o trabalho tem o apoio do cientista Carlos Nobre, que integra o Conselho de Administração do banco de fomento, e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
“Imagina que esses investimentos que aprovamos, às vezes, são de 30 anos. Em 30 anos, vai mudar a tecnologia, pode ter uma catástrofe onde está o aeroporto [de Porto Alegre]. Estamos incorporando modelos de riscos climáticos nos nossos processos de aprovação”, afirmou a diretora do BNDES, acrescentando que o aquecimento global já aconteceu, portanto, é preciso adaptar a infraestrutura do País a suas consequências.
“E num país que tem de construir tanta infraestrutura, precisa ter o risco climático incorporado”, defendeu. “Já analisamos o impacto ambiental do projeto, o impacto social e agora vamos começar com impacto de risco climático. Porque todo projeto tem um rating, tem uma nota de risco. Vamos ter de incluir uma nota de risco climático, fazendo eventualmente sugestão como ‘olha, para essa rodovia ser mais resiliente, precisa acontecer isso e aquilo’”, completou.
Tribuna do Norte