Presidente municipal do Partido Liberal (PL) e pré-candidato a prefeito de Mossoró às eleições deste ano, o ex-vereador Genivan Vale avalia o momento político e administrativo do município, preocupado com os escândalos que resultaram na demissão de um secretário e de um auxilar de segundo escalão, flagrado em áudio vazado, superfaturando contratos na área de cultura: “O Ministério Público precisa pedir que ele diga pra onde é que ia o dinheiro do superfaturamento. Esse dinheiro era só pra você ou dividia com alguém?”
Nascido em Mossoró, farmacêutico bioquímico e advogado, Genivan Vale foi duas vezes vereador em Mossoró, desistiu da política partidária, mas se dispõe a ser candidato a prefeito depois dos apelos de amigos, já presidiu o Rotary Clube de Mossoró e é diretor da CDL naquele município da região Oeste.
Entrevista com Genivan Vale
PRESIDENTE DO PL EM MOSSORÓ E PRÉ-CANDIDATO A PREFEITO
O que fez o senhor voltar para a politica partidária?
Eu fui vereador por dois mandatos de 2009 a 2016. Lá atrás com um grupo de amigo lançamos a candidatura do atual prefeito, que na maioria se afastou do prefeito. Mas recebi o convite do senador Rogério Marinho para assumir e estruturar o PL juntos com outros amigos, inauguramos o Diretório Municipal, nós decidimos que tínhamos que ter uma casa. Não existe um time de futebol sem um estádio, não existe um partido político sem ter uma casa, não existe um local para se reunir, para fazer as reuniões. Então, a primeira medida desse grupo foi alugar uma casa e reformar para poder realmente ter a sala do PL Jovem, a sala do PL, auditório. O PL realmente está se comportando como um partido, tendo uma sede, nós já demos alguns cursos de capacitação e dia 10 de maio, teremos um novo curso com um ex-juiz eleitoral sobre o que é permitido e o que não é permitido na campanha eleitoral.
Mas qual foi o motivo do afastamento político do prefeito?
Na verdade, a gente não pode considerar que houve rompimento, porque enquanto instituição, CNPJ e partido político, o PL nunca fez parte do governo Allyson Bezerra (União). Eu, enquanto cidadão, com CPF, a convite de um amigo, o Soldado Jadson, que foi vereador comigo, formamos o grupo que apoiou o prefeito, mas as pessoas começaram a sair, por não concordarem com o egocentrismo do prefeito, de querer resolver tudo e do jeito que ele quer, não havia diálogo. O primeiro a sair foi hoje líder da oposição, vereador Tony Fernandes (Avante), depois Tião Couto e o vice-prefeito João de Melo Neto, que hoje não tem uma sala para atender a população. Eu só fui um CPF, um cidadão, que ajudou o prefeito, não tinha nada no governo, não tinha cargo, não tinha nenhum relacionamento. Era muito equidistante. Mas quando Rogério Marinho era ministro, a gente pede para ajudar Mossoró e ajudou bastante, em seguida vem a eleição e o prefeito disse que ia ficar do lado de quem ajudasse Mossoró.
Então o prefeito mudou a postura do que pregava, depois que assumiu a prefeitura?
Antes era uma pessoa agregadora, dizia que ia fazer diferente e ser o novo na política. Primeiro, não tem um projeto para Mossoró, a cidade de verdade é totalmente diferente da que chega nas redes sociais. Hoje em Mossoró tem pessoas que prepara para dormir e a 1h da manhã, pegar um ônibus em péssimas condições para fazer uma endoscopia em Natal e vai se gastar R$ 20 milhões numa festa.
O prefeito se elegeu pelo sentimento de mudança, o senhor acha que agora pode ocorrer a mesma coisa com a oposição a ele?
Esse sentimento de mudança começou com o Tião Couto, que saiu de 0,33% em 2016 e terminou perdendo para Rosalba Ciarlini por pouco mais de cinco 5 mil votos. Eu fiz parte desse movimento chamado Mossoró Melhor, convidei Tião Couto para apresentá-lo ao senador Rogério Marinho, Tião quase ganha a eleição, e esse mesmo grupo quase todos estavam com Allyson e efetivamente houve um sentimento de mudança concretizado na eleição dele. Infelizmente, estamos vendo o novo, a mudança, com as mesmas práticas velhas.
Mesmo com ele dizendo ter 80% de aprovação, pode ocorrer uma reviravolta igual ao que ocorrem em relação à Rosalba?
É a nossa esperança. Hoje ele é favorito. O sentimento que me vem é saber se eu, e as pessoas que eu estou conversando, fazendo um arco de alianças, se nós teremos competência ou tempo para desmistificar essa ideia de um bom gestor novo, da Mossoró perfeita. Algumas pessoas tentam nos desestimular, lá atrás, quando estávamos no grupo com ele, a gente ouvia esse mesmo desânimo, ninguém derrota a maior liderança de Mossoró no poder e hoje ele é o prefeito.
Como o senhor tem acompanhando os escândalos que estão surgindo na gestão de Mossoró, resultando nas demissões de auxiliares do prefeito?
Vejo com preocupação, sabemos que o problema da política no Brasil é a corrupção, os recursos públicos não são infinitos, mas são muitos. Se, efetivamente, aplicarmos o que tem de recurso nas políticas públicas, e isso demonstrado recentemente pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, não inventou a roda, não veio com projetos mirabolantes, botou projetos que estavam no papel, desenterrados para sair, transposição do São Francisco, estatais dando lucro, porque é isso que tem que fazer. Na hora que o estatal dá lucro, deixa que saia dinheiro do bolso do trabalhador e vem dinheiro para o governo aplicar em políticas sociais. O caso de Kadson Duarte de Freitas (ex-secretário de Cultura e de Planejamento) eu vejo com preocupação pelos atos que ele praticou na gestão (depois de condenado na Justiça Federal por falsidade ideológica). Agora, em termos de gravidade, o mais grave, realmente, até agora, é do áudio em que Thiago Bento da Silva (ex-diretor de Gestão Cultural) diz, olha, onde tem R$ 20 mil, a gente bota pra R$ 50 mil, esse dinheiro todo vai pra onde? Vai para o bolso de alguém. É preciso que o Ministério Público ouça Thiago Bento e peça pra ele dizer pra onde é que ia o dinheiro do superfaturamento. Esse dinheiro era só pra você ou dividia com alguém. Espero como cidadão mossoroense que o Ministério Público possa prosseguir com a investigação e, ao final, que os culpados paguem, porque a população está cansada de pagar o pato por maus gestores, por maus tratadores do dinheiro público, é doloroso ver um pai de família chegar para um vereador pedindo por uma cirurgia, tem pessoas estão esperando dois anos por cirurgia e consulta médica, isso com certeza se deve ao fato de o dinheiro que é do povo não estar realmente sendo aplicado como deveria.
O senhor acha que o prefeito sabia dessa condenação de Kadson Eduardo?
Pelo que nós escutamos ele sabia, por conta do movimento que fez em tirá-lo da vitrine, se ele não soubesse, tinha deixado Kadson Eduardo lá, porque era o preferido para ser o seu candidato a vice-prefeito, quando estoura o escândalo da condenação, decide tirar o Kadson da Secretaria de Cultura, mas ele continuou no Planejamento, veio a pressão da sociedade, do Ministério Público, e ele demitiu.
Tribuna do Norte