O braço armado do grupo palestino Hamas anunciou na segunda-feira (10/2) a suspensão da libertação dos reféns israelenses que vinha ocorrendo como parte do acordo de cessar-fogo com Israel.
Em comunicado, o Hamas afirmou que a liberação das pessoas será paralisada “até segunda ordem”.
O grupo acusa o governo israelense de ter violado termos do acordo de cessar-fogo — especificamente, o Hamas afirma que houve ataques militares israelenses a posições palestinas dentro da Faixa de Gaza.
O Hamas também acusa Israel de atrasar ou impedir a entrada de comboios de ajuda humanitária em Gaza.
Havia previsão de uma nova entrega de reféns para o próximo sábado (15/2).
Depois do comunicado, um novo anúncio do Hamas, divulgado pela agência de notícias AFP, afirma que a “porta continua aberta” para a próxima troca de reféns israelenses e prisioneiros palestinos.
O texto afirma que o Hamas “intencionalmente fez esse anúncio cinco dias antes da entrega programada dos prisioneiros, permitindo aos mediadores tempo suficiente para pressionar a ocupação [israelense] a cumprir suas obrigações”.
Na ocasião, previa-se que três israelenses feitos reféns nos ataques de 7 de outubro de 2023 seriam soltos pelo Hamas.
Em troca, Israel libertaria um número ainda não divulgado de prisioneiros palestinos, como parte do acordo firmado no mês passado.
Resposta de Israel

Após o primeiro anúncio do Hamas, o governo de Israel afirmou que está preparado para “qualquer cenário” na Faixa de Gaza.
“O anúncio do Hamas sobre a suspensão da libertação de reféns é uma violação total do acordo de cessar-fogo e o acordo para soltura dos reféns”, afirmou em comunicado o ministro da Defesa israelense, Israel Katz.
“Orientei as IDF [Forças de Defesa Israelenses, na sigla em inglês] para que entrem no mais alto nível de alerta para qualquer cenário em Gaza, e para proteger nossas comunidades. Não permitiremos um retorno ao cenário do 7 de outubro [de 2023].”
Israel ainda não respondeu às últimas declarações.
O ‘fator Trump’
Gaza voltou aos holofotes do noticiário recentemente com as declarações do presidente americano, Donald Trump, sobre o território.
Durante encontro na Casa Branca com o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, Trump, causou espanto no mundo ao anunciar que tinha a pretensão de remover os palestinos de Gaza e colocar o território sob domínio dos EUA.
Em coletiva de imprensa, Trump foi além de seus recentes apelos crescentes para que os palestinos em Gaza sejam “realocados” para o Egito e a Jordânia, dizendo que os Estados Unidos tomariam o território e o reconstruiriam.
Quando perguntado se os palestinos teriam permissão para voltar, ele disse que “o povo do mundo” viveria lá, dizendo que seria um “lugar internacional e inacreditável”, antes de acrescentar: “e também os palestinos”.
O Hamas repudiou publicamente a ideia, mas não há qualquer menção a Trump ou a seu plano no comunicado do grupo suspendendo a entrega dos reféns.
Nesta segunda-feira, Trump impôs seu próprio prazo para o futuro do cessar-fogo em Gaza em declaração no Salão Oval.
“Para mim, se todos os reféns não forem libertados até sábado ao meio-dia – acho que é um horário apropriado – eu diria para cancelar o acordo, acabar com todas as apostas e deixar o inferno se soltar”, disse ele no Salão Oval.
Não está claro se Trump se referia ao meio-dia ou à meia-noite de sábado, nem qual fuso horário ele tinha em mente.
Trump acrescentou que espera que todos os reféns sejam libertados “de uma vez, e não aos poucos”.
Questionado pela BBC se sua declaração sobre “deixar o inferno se soltar” significava que espera uma retaliação de Israel contra o Hamas, Trump respondeu: “Vocês descobrirão, e eles também. O Hamas descobrirá o que quero dizer.”
Quando pressionado sobre se os Estados Unidos estariam envolvidos, ele disse: “Vamos ver o que acontece.”
BBC