A ação visa também recompor perdas causadas pela pandemia. Há previsão de que o projeto se estenda para outros municípios| Foto: Divulgação

Um projeto de fortalecimento da educação básica vem mudando a rotina das escolas públicas de Acari, interior do Rio Grande do Norte. A cidade do Seridó potiguar recebeu o projeto-piloto do Interiorizando a Educação, do Serviço Social da Indústria (Sesi-RN), aplicado no início do ano letivo de 2024, que contempla cerca de 1,8 mil estudantes do ensino fundamental e já apresenta uma melhoria de até 70% nos índices educacionais. A ação visa também recompor perdas causadas pela pandemia e inclui ainda uma capacitação contínua para os docentes. Há previsão para que a iniciativa se estenda para outros municípios do Estado.

O programa, fruto de uma parceria com o Sesi-SP, é dividido em dois eixos principais. O primeiro é focado na educação regular, que trabalha as disciplinas básicas, com material didático próprio, nas áreas de língua portuguesa, matemática, ciências da natureza, ciências humanas, educação física e artes, que são distribuídas em um plano de aula inovador e moderno, onde as carências são identificadas individualmente para serem revistas de forma mais eficaz. Além disso, o Interiorizando a Educação trouxe, pela primeira vez, aulas de língua inglesa para o ensino básico público da cidade.

O segundo eixo, também chamado de Recompondo Saberes, é aplicado de forma facultativa para todos os alunos, dos anos iniciais aos finais do ensino fundamental, e é voltado à conquista do aprendizado que deixou de ser adquirido com a paralisação do sistema por causa da pandemia de covid-19, como explica Juliano Martins, superintendente regional do Sesi-RN.

Juliano Martins: “Não se reforça o que o aluno não aprendeu”| Foto:Magnus Nascimento

“Mesmo sem essas aulas, os alunos passaram de ano. Quem estava no 1º ano foi para o 2º e assim sucessivamente, o que gerou uma grande lacuna de conhecimento. Não adiantava fazer um reforço, porque não se reforça o que o aluno não aprendeu”, diz.

Martins destaca que a implementação do projeto foi motivada pela necessidade de buscar soluções para a educação pública no Rio Grande do Norte, que acumula péssimos desempenhos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Inspirados na metodologia do Sesi-SP, discutimos de que forma poderíamos contribuir para melhorar a qualidade do ensino público, levando nossa metodologia e tecnologia educacional. É uma contribuição que vai além da nossa razão de existir, que é a indústria”, pontua.

Acari foi escolhida para servir de vitrine e mostrar que a adaptação do modelo pode funcionar também não só no semiárido potiguar, mas em todo o Rio Grande do Norte. Roberto Serquiz, presidente do Sistema Fiern, que abrange o Sesi-RN, celebrou os primeiros resultados. “A medição que foi feita no primeiro semestre demonstra não só a dimensão do projeto, mas sobretudo projeta o início de um projeto-piloto que irá ajudar a recuperar o nível educacional no nosso Estado”.

A expectativa é que o plano se expanda para outros municípios do Rio Grande do Norte, onde escolas podem seguir o mesmo caminho de Acari. Juliano Martins enfatiza que essa expansão depende de diversos fatores, incluindo a adesão das prefeituras.

“Nossa intenção é levar o projeto para mais cidades, mas isso precisa ser feito com a colaboração das administrações municipais. A adesão das prefeituras é fundamental, pois sem o apoio local, a implementação do sistema se torna inviável. Acari foi um excelente ponto de partida, e queremos levar essa experiência para mais alunos, em outros municípios que queiram participar no futuro”, explica Martins.

Primeiros resultados
O avanço de 70% nos índices educacionais é uma mediana que inclui aspectos como curva de desenvolvimento da aprendizagem dos alunos, interação em sala de aula, participação dos estudantes e adequação aos conteúdos aplicados, por exemplo. O percentual foi verificado ao fim do primeiro semestre letivo em comparação ao início do ano. O Interiorizando a Educação prevê provas periódicas de diagnóstico acadêmico para medir a evolução dos estudantes em todas as séries. O balanço desta primeira etapa já foi apresentado às escolas e ao Sesi-SP.

A pedagoga e diretora da Escola Municipal Professora Terezinha de Lourdes Galvão, Tatimara Medeiros, enfatiza o valor educativo das aulas de inglês e diz que o projeto é exemplo de como uma boa parceria pode transformar a educação potiguar. “Eles terem a oportunidade de aprender uma nova língua no momento da alfabetização é algo único. A gente vê a felicidade dos pais com isso. Esse projeto foi um presente porque tudo que pudermos fazer para melhorar a educação do nosso Estado é válido”, comenta.

A secretária de Educação de Acari, Maria Suelly da Silva, afirma que a iniciativa contribui para um avanço gradual, mas de forma consistente, na educação local. Ela cita ainda “certa empolgação” dos alunos. “A melhoria é clara no interesse deles, na empolgação, de querer desenvolver as atividades, participar, e se preparar como cidadão mesmo, porque a educação de base é um grande gargalo do Estado, como a gente vê nos índices do Ideb”, conta.

RN tem pior desempenho no Ideb
O esboço do projeto Interiorizando a Educação começou a ser desenhado após o desempenho do Rio Grande do Norte no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2021, quando o Estado registrou a pior nota do País no Ensino Médio da rede pública. À época, o ensino fundamental (anos iniciais) ficou em penúltimo do País. Dois anos depois, no Ideb 2023, o cenário não se alterou. O Rio Grande do Norte manteve a pior nota do País no ensino médio, a pior no fundamental anos finais e a terceira pior no fundamental anos iniciais.

Para a especialista em educação, Daniela Terto, uma educação de base de qualidade é fundamental para reverter os baixos índices que o Estado enfrenta atualmente. Segundo ela, a fase inicial da vida escolar é determinante para todo o desenvolvimento futuro dos alunos. “Uma boa educação é essencial em todas as esferas, todas as etapas, sobretudo nos anos iniciais porque a gente tem a alfabetização, o letramento, que são cruciais para que o aluno desenvolva todas as áreas do conhecimento”, aponta.

A esperança, diz Juliano Martins, é que, com o tempo, os resultados positivos em municípios como Acari possam ajudar a reverter o cenário educacional desfavorável. “Sabemos das dificuldades, na pandemia isso agravado. Situações que geraram lacunas muito significativas, com todo o conhecimento que foi perdido. Acreditamos que essas parcerias podem nos ajudar a pensar mais positivo para frente e tentar reverter esse quadro”, completa.

Tribuna do Norte

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