Ícaro Carvalho
Repórter
Com um investimento de R$ 100 milhões na aquisição da Vitagema, sediada em Macaíba, a Granja Faria, maior produtora de ovos do Brasil quer triplicar a produção de ovos no Rio Grande do Norte. É o que estima o CEO Ricardo Faria, fundador e presidente do Conselho da Granja Faria. As obras de ampliação estrutural já estão em andamento e devem ser finalizadas até o fim do ano. É o maior investimento da rede de granjas para 2024.
A negociação envolvendo a Granja Faria e a Vitagema foi sacramentada em março deste ano, num valor de R$ 36 milhões. A Vitagema era uma das líderes do segmento na região Nordeste com produção de ovos de galinha e ovos de codorna e foi vista pela Granja Faria como uma possibilidade de ampliar as ações no Nordeste, sendo a primeira fábrica na região. “A granja está bem localizada. Estávamos capenga no RN, Ceará, Paraíba e Pernambuco. E a granja fica exatamente no meio desse eixo importante de consumo, de população e renda do Brasil”, explicou Ricardo Faria à TRIBUNA DO NORTE. A assessoria da negociação foi feita pela RGS, assessoria financeira com expertise em fusões e aquisições no Brasil.
Nesta entrevista à TN, Ricardo Faria, que tem o empreendedorismo desde a infância quando vendia picolé nas férias e em estádios de futebol, aponta perspectivas e possibilidades com a entrada da Granja Faria no Nordeste e cita que a ideia é ampliar cada vez mais a produção, fazendo com que o RN deixe de importar parte da produção de ovos de outros estados. Confira.
O que explica a decisão de investir no Rio Grande do Norte e o que definiu essa escolha?
Somos apaixonados pelo Nordeste e achamos que é uma região pujante e em alto crescimento no Brasil. Estávamos fora do Nordeste, em especial do miolão, que é Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Conseguíamos atender a região por cima, por termos uma granja em Tocantins, chegávamos no Piauí e Maranhão, e outra granja no Espírito Santo, podendo atender a Bahia. Lidamos com um produto que o ideal é não transportar grandes distâncias. Não gostamos de transportar acima de 800km. Nossa ideia era abrir algo nesse miolo. Pensamos inicialmente no Ceará, mas quando apareceu a oportunidade da Vitagema, a primeira conversa com a família em maio de 2023, eles não estavam prontos para fazer a venda, estavam amadurecendo a ideia. Quando veio essa oportunidade abraçamos com unhas e dentes tentando ficar próximo da família, que era a proprietária da empresa, e eles sentiram muita confiança na nossa Granja em poder pegar o legado que eles construíram e dar continuidade.
De quanto será a ampliação na produção de ovos aqui no RN?
A granja está bem localizada. Estávamos capenga no RN, Ceará, Paraíba e Pernambuco. E a granja fica exatamente no meio desse eixo importante de consumo, de população e renda do Brasil. Num primeiro momento anunciamos uma granja para 1 milhão de aves, mas começamos a operar e a produção da companhia vai muito bem, temos muita gente boa na Vitagema e a região tem capacidade para trazer mais gente boa, então decidimos ampliar isso para 1,3 milhão de aves. Queremos triplicar a produção. A obra está indo muito bem, de vento em popa. Queremos que até dezembro a Vitagema esteja em sua plena capacidade de operação. O investimento foi de R$ 100 milhões, aquisição e ampliação.
Vai aumentar a empregabilidade na região?
Aumenta sim. Claro que agora o aumento é muito maior por conta da construção. A Vitagema em si virou um canteiro de obras. Temos equipes de terraplanagem, construção, equipamentos, instalações elétricas. Hoje, o movimento é de fato desproporcional. Mas a sustentação é que, se a produção cresce três vezes, não aumenta os colaboradores nessa proporção, pois trouxemos muita tecnologia e muita eficiência para melhorar o processo. O movimento econômico cresce mais que três vezes, mas teremos nessas áreas novas uma quantidade expressiva de colaboradores. Serão cerca de 100 famílias envolvidas nessas áreas novas.
Como será a produção no RN? A destinação será somente para o mercado interno ou exportação?
O RN hoje é um dos estados que proporcionalmente mais importam ovos. Em especial, o RN importa do Ceará, Paraíba e Pernambuco. Dado que foi um estado muito receptivo a todos esses produtos por séculos, agora a gente vai gostar da receptividade desses outros estados e a partir do RN vamos fazer essa exportação de ovos para esses outros estados irmãos vizinhos.
Quanto o RN importa atualmente? E quanto vocês querem mudar a partir de agora?
O RN tem um plantel de 1,1 milhão poedeiras, que geram 950 mil ovos por dia. O Estado tem cerca de 3,4 milhões de habitantes e seu consumo é de 2,6 mil ovos por dia. A Granja Faria vai produzir mais 1,150 mil ovos por dia, então vamos praticamente suprir essa necessidade de importação de ovos do RN.
Como avalia esse movimento do mercado em relação ao preço do ovo? O ovo tem sido realmente essa proteína mais democrática em função do preço? Ou tem outros fatores?
A Granja Faria gosta de ser uma empresa democrática e conseguir atender a todos os nichos de mercado no aspecto do consumidor. Conseguimos ter o ovo comum, o ovo orgânico, caipira, o selenium, o ovo vermelho, para quem gosta de academia. Vamos ter condição de produzir ovos de alta qualidade para as camadas menos favorecidas da população, mas não vamos deixar de olhar para aquele pessoal que quer comer um ovo de galinha solta, selenium ômega 3, também chegar no supermercado e encontrar aquele ovo que ele consegue enxergar no Rio, em São Paulo, também no Rio Grande do Norte. Vamos conseguir ampliar essa gama de produtos.
Como a Granja Faria chegou na liderança da produção de ovos do Brasil e da América Latina?
Serviço, gente boa, e acreditando no potencial do nosso país. Time bom, remuneração boa para nosso pessoal para não perdermos o colaborador. Temos uma capacidade de retenção muito forte. O consumo de ovos no Brasil era 90/pessoa. Hoje são 260. O consumo naturalmente vem crescendo mas quando olhamos para o mundo, vemos que se consome mais ainda. O Japão consome 400 ovos/dia. Caminhamos muito, mas temos muito a crescer.
Qual expectativa de crescimento da Granja Faria e projeção de faturamento? Vocês exportam ovos feitos aqui?
Somos uma empresa listada e por regra da CVM não posso dar estimativas. Posso dizer que a granja esse ano vai produzir mais de 5 bilhões de ovos. E a Granja vai crescer em relação ao ano passado. Cerca de 15% da receita da Granja advém de exportação para países como Chile, Bolívia, México, Alemanha, Japão, Taiwan, Arábia Saudita, Emirados Árabes, África do Sul… Nossa produção corresponde a 10% da produção nacional.
As empresas que o sr lidera estão fazendo novos investimentos este ano?
Temos investimentos, mas o nosso maior investimentos no que se refere a ampliação é no Rio Grande do Norte. Temos outro em São Paulo, mas que trata-se de uma ampliação do volume de produção, mas não é tão relevante quanto a ampliação do RN.
De vendedor de picolé para se tornar o Rei do Ovo, como foi essa trajetória?
Essa foi minha parte empreendedora mais organizada (vender picolé). Sou filho de classe média, minha mãe é engenheira e meu pai é médico. Não é que eu precisava fazer isso por subsistência, mas fiz por livre iniciativa e por ter desde os 6,7 anos um espírito empreendedor. Eu vendia picolé, ia lá no franqueador e ganhava comissão, fazia isso na época do verão na praia e nos jogos do Criciúma. Vendi papelão para reciclagem. Era minha brincadeira. A beleza disso é que sempre fiz isso por livre iniciativa, nunca foi algo obrigado pelos meus pais. Nunca deixei de estudar, sempre passei direto com boas notas. Sou engenheiro agrônomo formado na federal, passei na primeira chamada, então consegui durante minha infância agregar trabalho com estudo, algo que hoje no Brasil tem outra conotação. Vejo que foi uma das coisas que me dignificou, tenho as mãos cheias de calo até hoje. Óbvio que não dá para colocar uma criança no garimpo. Com 16 anos fui emancipado e montei minha primeira empresa, que era de confecções. Com 21 anos, montei minha primeira lavanderia. Olha quanto tempo eu ganhei de experiência, pra saber a importância do dinheiro e ver o quão difícil é ganhar, pra não termos hoje uma geração que nem trabalha nem estuda.
Como chegou no ramo de ovos?
Com 21 anos montei uma lavanderia e um dos meus principais clientes era a Perdigão, que em determinado momento precisava de parceiros para produzir ovos para eles. Comecei produzindo um ovo fértil, que leva-se para um incubatório e vira-se um pinto de um dia. Em 2007 comecei a produzir esse ovo fértil e em 2017 comecei a produzir o ovo que fazemos agora no RN. De um negócio fiz outro maior ainda. Nunca percebi que era vantajoso, só percebi que era um ramo que tinha um consumo muito grande e que se eu conseguisse fazer algo moderno, eficiente e com alta qualidade, eu iria levar vantagem em relação aos meus concorrentes.
QUEM
Ricardo Faria, engenheiro agrônomo por formação, iniciou sua carreira empresarial com a Lavebras, uma rede de lavanderias industriais em Santa Catarina, inicialmente voltada para atender aviários e frigoríficos da região. Hoje, aos 49 anos, Faria é uma figura central no agronegócio brasileiro, atuando como principal acionista e presidente do conselho da Granja Faria, com sede em Lauro Müller, SC, e presença em todo o território nacional.
Granja Faria
A Granja Faria é a maior produtora de ovos do Brasil e uma das maiores empresas avícolas da América Latina. A empresa opera com 12 unidades produtoras de ovos férteis, três incubadoras e 15 unidades produtoras de ovos comerciais. Além disso, possui cinco indústrias de processamento de ovos, duas unidades de produção de fertilizantes organominerais e seu clube de assinatura de ovos. Com um plantel de aproximadamente 20 milhões de aves e uma produção média de 5,2 bilhões de ovos por ano, a Granja Faria se destaca como uma das maiores do setor avícola da América Latina.
Tribuna do Norte