Mossoró realiza 'Dia D' de vacinação contra covid-19, febre-amarela e meningite neste sábado (27) | Foto: Arquivo Secom/PMM

Um vídeo antigo voltou a viralizar no X e no WhatsApp com alterações enganosas que apontam que a TV Globo teria admitido que vacinas contra a covid-19 matam. O autor do post utilizou um vídeo do SPTV 1ª edição, de 2018, no qual o jornalista César Tralli, então apresentador do telejornal, noticia a morte de duas pessoas imunizadas contra a febre amarela. Naquele momento, o país enfrentava centenas de casos da doença e um terceiro óbito estava para ser confirmado.

Em nenhum momento o jornalista afirma que as vacinas matam. Ele alerta que há contraindicações no caso da imunização contra a febre amarela (veja o vídeo original aqui, em uma verificação do portal g1 sobre o assunto) e ressalta que médicos suspeitavam que a baixa imunidade das pessoas vacinadas estava ocasionando as mortes.

O vídeo original sofreu edições e cortes. No material adulterado, Tralli faz o seguinte comentário sobre a vacina contra febre amarela: “Gente, é importante lembrar o seguinte: a vacina tem, sim, contra indicações. Tem riscos à saúde. O secretário municipal da saúde aqui de São Paulo, Wilson Pollara, me confirmou agora há pouco por telefone que duas pessoas já morreram aqui em São Paulo depois de tomar a vacina, um homem e uma mulher. Os médicos suspeitam que eles estavam com a imunidade baixa. E outras três mortes de pessoas que tomaram a vacina também estão sendo investigadas. Uma delas deve se confirmar: mais um homem. Todas essas pessoas tomaram vacina de outubro para cá”.

A versão adulterada elimina a frase “só deve tomar essa vacina contra a febre amarela quem for viajar ou mora em área de risco”, dita pelo apresentador. Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) o imunizante é contraindicado para:

Crianças menores 6 meses de idade

Pessoas com doença febril aguda, com comprometimento do estado geral de saúde;

Pessoas com história de reação anafilática relacionada a substâncias presentes na vacina, como ovo de galinha e seus derivados, gelatina, eritromicina e canamicina;

Gestantes, a não ser em situações de alto risco de infecção, o que deve ser avaliado pelo médico;
Pessoas com imunodepressão grave por doença ou por uso de medicação/tratamento;


Pacientes com câncer;

Indivíduos que vivem com HIV, sintomáticos e com comprometimento da imunidade;

Pacientes com história de doenças do timo, como miastenia gravis, timoma ou timectomia.

Pacientes submetidos a transplante de órgãos;

Mulheres grávidas só devem ser vacinadas com orientação médica, embora não existam evidências de que a vacina possa provocar alterações nocivas em fetos.

O texto descritivo da matéria, que fica no rodapé da tela, também foi alterado. Enquanto no vídeo original estava escrito “febre amarela”, no conteúdo modificado ele é substituído, logo no início, por “vacinas matam”. Ainda na legenda do post no qual essa versão foi publicada, o autor escreveu: “Resumindo, Bolsonaro sempre teve razão!”.

O vídeo confunde ao induzir que a TV Globo estaria falando da vacinação contra a covid-19 e que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estaria correto ao questionar a eficácia da vacina. A pandemia chegou ao país em 2020, um ano após o início da gestão do então mandatário. A imunização contra a covid no Brasil começou em 2021 e sempre foi colocada em xeque por Bolsonaro, que nunca apresentou evidências científicas de falhas.

O Ministério da Saúde atestou, repetidas vezes, que todos os imunizantes utilizados contra a doença têm eficácia comprovada e que, “previamente à sua introdução, passaram por todas as fases de estudos pré-clínicos e estudos clínicos (fase I, II e III)”.

Sobre a vacina contra a febre amarela, a Fiocruz, em nota publicada no site, esclarece que ela é raramente associada a eventos graves, como reação de hipersensibilidade (0,0009%), reação anafilática (0,000023%), doença neurológica (0,0004%) e doença viscerotrópica (0,0003% em maiores de 60 anos e 0,001% em menores de 60 anos).

Não foi possível contato com o autor do post, já que o X está fora do ar no Brasil.

Projeto Comprova

Tribuna do Norte

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